domingo, 8 de fevereiro de 2015

Guidance - 7/02

Planites

«(...) também essa precipitação sobre o vazio acontece em Planites, da coreógrafa grega Patricia Apergi, sábado no CCVF. (...) Apergi debruça-se sobre o movimento da viagem, de pessoas que se entregam à estrada deixando o passado para trás e de olhos postos num futuro menos opressivo. “Planites”, explica-nos, “vem da palavra grega ‘planetas’ e, tal como planetas que circulam à volta do sol, significa também vagabundo ou viajante.” A partir daí, a coreógrafa fez uma investigação do flamenco, das danças celtas irlandesas e de danças árabes e africanas, todas nascidas de jornadas migratórias.
Talvez mais importante, no entanto, tenha sido a série de entrevistas que realizou a pessoas chegadas à Grécia, fugindo de cenários de guerra e por vezes muito mal recebidas, mas também a cidadãos gregos que, com o país asfixiado pela crise financeira, optaram por partir. “Quis perceber o que se passa com estas pessoas, aquilo que encaram, quais as circunstâncias em que vivem estas pessoas que procuram um futuro melhor para as suas famílias, quis saber o que acontece durante esta viagem”, justifica. Por isso, simbolicamente, Patricia Apergi escolheu cinco intérpretes masculinos que começam Planites solitários, olhando um lugar vazio, encenando uma despedida. E partem de cinco pontos diferentes, valendo-se de igual forma de técnicas distintas de street dance, artes marciais, ballet clássico ou dança contemporânea. “São homens devido à ideia arquetípica de que o homem é aquele que viaja e a mulher simboliza a casa, estabilidade”, afirma. A presença feminina, intuída na ausência, é precisamente a das mulheres, mães, filhas, irmãs, namoradas ficadas em/na terra.»

O Esplêndido

«Máquina Agradável. A partir de Jean Genet. Andresa Soares, direção; Pedro Núñez, Rita Lucas Coelho, Pedro Inês, Andresa Soares, Vânia Rovisco e Lígia Soares, interpretação.
Podem a dança e o movimento ser veículos de interpretação de um texto imperfeito e inacabado de um dos maiores autores do século XX? A coreógrafa e bailarina Andressa Soares considerou que sim, e desafiou seis “coreógrafos experimentados e no auge da sua maturidade criativa” a trabalharem cada personagem, ...
A peça Splendid´s, texto de Jean Genet sobre um grupo de gangsters enclausurados num hotel, é lida a partir da “intensidade da contracena”, a que a dança empresta uma natural subjetividade para contar a história. Um desafio para os bailarinos/performers, a quem foi pedido que trabalhassem isoladamente cada personagem e, posteriormente, contracenassem no palco. Uma tamanha intensidade aplicada nos movimentos que deixa ao público “a sensação de que essas personagens se espelham e se fundem ao correr do tempo”.»
[texto de Frederico Bernardino | fotografias de Humberto Mouco]

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