sábado, 8 de setembro de 2012

E o meu melhor presente de aniversário! (sob a forma de palavras)


«EU CONHEÇO A BRANCA DE NEVE

Desde sempre me lembro dela, provavelmente mesmo muito antes de ter consciência de mim própria já distinguia o seu tom de voz.
Recordo-me da sua capacidade para se isolar, ficando horas no meio dos seus puzzles, dizendo muitas vezes que quantas mais peças tivessem mais espetaculares eram. Sobre a alcatifa cinzenta do nosso quarto jogava horas com as imensas e minúsculas pecinhas, num quebra-cabeças desenfreado.
Adorava ler, perdia-se horas nas inúmeras histórias que as páginas lhe iam oferecendo, herança incontestável do meu pai, que sempre lhe incentivou o gosto, oferecendo-lhe as coleções que ela ia pedindo das histórias juvenis.
Quando se embrenhava no seu mundo eu sabia que não a podia interromper, como menina mais velha, sabia impor as suas regras.
Recordo-me das tardes de Verão, daquelas bem quentes, em que é impossível estar em casa, muito menos quando se é criança, em que íamos às amoras nos campos, perto da casa da minha avó, depois cobríamos os frutos com açúcar, no final do manjar ficávamos com a cara, mãos e roupas todas pretas e com a barriga satisfeita, conseguia sempre mais amoras do que eu, algo que não me agradava muito.
Sempre muito organizada, mantinha os seus brinquedos “estimadinhos”, e isso enervava-me, pois as minhas mãozinhas traquinas nunca lhes podiam tocar, e o que eu gostava de uma tábua de passar a ferro que ela tinha, com um ferro que aquecia e tudo, e das suas folhinhas de cheiros, e da sua “Barbie e do Ken”, bem mas então isso era sagrado, às vezes “roubava-os” para brincar um bocadinho, talvez por serem o fruto proibido era bem mais apetecido.
A verdade é que idolatrava aquela menina mais velha, tentava imitar tudo o que fazia, mas como eram coisas que eu dificilmente compreendia por serem muito calmas para mim rapidamente desistia. 
Com os seus cabelos longos e vestidinhos bem coquetes, transbordava cultura, e quando falava eu bebia as suas palavras, com sede de aprender tudo o que dizia.
Quando me trazia doces de um quiosque perto da sua escola eu devorava-os em segundos, nunca compreendi como é que os seus cresciam na sua caixinha, acho que já se revelava aí a sua capacidade de economizar, anda me lembro, como se tivesse sido ontem, o cheiro que emanava daquela caixa quando lhe retirava a tampa, cheia de gomas, pozinhos, rebuçados, pastilhas elásticas e todo um mundo de sabores, o que eu gostava daquilo, uma vez ou outra lá lhe roubava algumas e mesmo assim elas parecem que cresciam…
Adorava ver os filmes que ela gostava, às vezes nem entendia nada por não se adequarem à minha idade, mas via-os só por ela os ver. Ainda me lembro de adorar ver o Twin Peaks, eu teria os meus 8 anos, e não era de todo uma série para a minha idade, ficava colada à televisão com os olhos quase a fecharem-se de sono, e a tremer de medo, mas armada em adulta lá via, nem que a isso se seguisse uma noite de terríveis pesadelos.
Na adolescência tornou-se um ícone da moda, com o seu estilo fabuloso, repleto de roupas que eu adorava. As suas roupas para mim eram um fascínio, de quando em vez lá lhe roubava algumas para poder ir para a escola a transbordar estilo, algo que a enervava tanto, tanto que a sua fúria era bem maior do que o buraco do ozono, contudo para mim valia bem o risco.
De pele branca, cabelo escuro, baixinha e cinturinha delgadinha, qual Branca de Neve, assim é a minha irmã, alguém que me acompanhou desde sempre e marcou toda a minha essência e o meu carácter, não seria a mesma pessoa se ela não me tivesse acompanhado neste percurso de uma vida.
Carácter forte, muito senhora do seu nariz, personalidade forte e lutadora, inteligente como só ela, inacreditavelmente teimosa assim é a mulher que tem um sangue exatamente igual ao meu a correr-lhe nas veias, minto o dela deve ter menos colesterol.
Aqui fica o meu texto de PARABÉNS, sim porque ela fez anos ontem, especialmente porque é uma grande mulher que eu admiro muito, e por isso mesmo encho a boca para lhe dizer PARABÉNS - quando for grande quero ser como ela.»
 (M)Anocas

1 comentário:

Ana disse...

Na caixa que te ofereci poderás colocar novos doces, sob a forma de recordações e memórias :)

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