sexta-feira, 6 de julho de 2012

Música na literatura # 5

    Não consigo explicar a satisfação que me dá encontrar nas páginas de um livro referências a artistas, que conheço ou desconheço ou de obras, nas mesmas condições. Principalmente, quando o autor do livro me conduz a ideias que me preenchem, quando sou apreciadora da própria personalidade do autor, tenho plena consciência de que não é por acaso a introdução desta ou daquela música, deste ou daquele autor, deste ou daquele livro, quadro, peça escultórica... Não há acasos na vida, simplesmente.
     E, ao fim e ao cabo, mesmo que estes textos não façam sentido para quem os lê, para mim, esta busca faz-me aprender, faz-me crescer, entusiasma-me. E, além do mais, faz-me mergulhar mais a fundo no livro que leio, faz-me perder-me em devaneios. Em devaneios de procura e de reflexão. 
   Nas minhas leituras dos últimos dias, referia-se Murakami a «concertos para instrumentos de sopro de Vivaldi», à «Oferenda Musical de Bach», ironicamente a Barry Manilow e aos Air Supply, mas essas referências não me entusiasmaram da forma como aconteceu com este «Sonho de Amor de Liszt». Deixo a ligação e o excerto do texto que são ambos tão inspiradores. 
     «...Porque, a mim, parecia-me que Canela e o seu computador estavam inseparavelmente unidos, funcionavam como que fundidos num só, e moviam-se de uma maneira que tinha o seu quê de erótico. Após martelar as teclas durante um bocado, ele ficava ali a olhar para o ecrã, a ver as letras que tinham aparecido entretanto escritas e, às vezes, comprimia os lábios com um ar de insatisfação, outras, limitava-se a sorrir. Por vezes, teclava devagarinho, mergulhado nos seus pensamentos, uma tecla, depois outra, depois outra; e vezes em que deixava correr energicamente os dedos sobre o teclado como um pianista a interpretar um estudo de Liszt.» Pg 490 in «Crónica do Pássaro de Corda» 

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